SÃO PAULO – A falta de serviços de saneamento básico em 24 países da África subsaariana reduz as oportunidades de estudo e trabalho e aumenta as chances de doenças para pelo menos 17 milhões de mulheres e meninas que vivem na região. A conclusão é de um estudo recém divulgado por um grupo de pesquisadores da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, e da Universidade da Coreia, na Coreia do Sul.
A partir da reunião de uma série de indicadores sociais, os especialistas descobriram que as mulheres e meninas são as principais responsáveis pelo fornecimento de água para suas casas. E, como há pouco ou nenhum serviço de saneamento básico, esse abastecimento é feito com viagens diárias ao poço mais próximo, a pé. Os riscos desse transporte, além do tempo e do desgaste físico que a prática implica, reduzem as oportunidades de estudo e trabalho das mulheres e meninas afetadas, além de aumentar a incidência de doenças e lesões.
“Se o acesso à água fosse mais fácil – idealmente, se a água fosse encanada – mulheres e meninas ficariam desobrigadas das longas caminhadas atrás de água e poderiam se dedicar ao trabalho, ao estudo e a outras atividades”, resume Jay Graham, um dos três pesquisadores responsáveis pelo estudo e professor assistente de Saúde Ambiental e Ocupacional do Instituto de Saúde Pública Milken, sediado na Universidade George Washington, nos Estados Unidos.
Trabalho puxado
O tempo médio levado para percorrer o trajeto diário de ida e volta à fonte de água mais próxima nas regiões estudadas é de pelo menos 30 minutos. Em terreno frequentemente acidentado, as mulheres e meninas carregam, na ida, um ou dois grandes recipientes vazios com capacidade somada de até 18 litros de água. Na volta, cada litro vira um quilo de peso que acaba equilibrado na cabeça ou carregado nos braços.
O transporte desse peso por corpos muitas vezes ainda em formação e mal alimentados aumenta as chances de lesões esqueletais e musculares, além da dor de coluna crônica. Na África do Sul, por exemplo, país tido como um dos mais desenvolvidos entre as nações subsaarianas, um levantamento feito com 39 carregadoras de água revelou que 69% delas tinham algum tipo de lesão na espinha.
Saneamento é parte da solução
Ainda que a água encanada possa melhorar substancialmente a situação de vida de mulheres e meninas na África subsaariana, os estudiosos reconhecem que só água não resolve. O claro desequilíbrio no tratamento entre homens e mulheres e entre meninos e meninas também precisa ser compreendido e combatido. “Não estudamos as origens dessa diferença de tratamento entre homens e mulheres, mas sabemos que buscar água é tido como um trabalho inferior por algumas das sociedades que pesquisamos”, diz Graham, da Universidade George Washington.
Leia a íntegra da pesquisa, intitulada An Analysis of Water Collection Labor among Women and Children in 24 Sub-Saharan African Countries (2016), de Jay P. Graham, Mitsuaki Hirai, Seung-Sup Kim.