SÃO PAULO – Quem mora em casa conhece bem a rotina: uma vez por mês, o leiturista da empresa de água aparece no portão atrás do relógio para anotar quanto do recurso foi consumido no período. Quando o aparelho fica dentro de casa, as famílias se organizam para que alguém esteja disponível para abrir o portão, o cachorro é colocado no canil e o acesso ao aparelho é liberado. O agente comercial, muitas vezes um velho conhecido da família, anota o volume registrado pelo hidrômetro e envia à empresa. A empresa então calcula o valor a ser pago e emite a conta. Alguém da família se encarrega de pagar o boleto no banco até a data do vencimento – ninguém quer pagar juros – e no mês seguinte, o ramerrame se repete.
Desde a instituição dos serviços de água no Brasil, a rotina mensal dos clientes não foge muito disso. Recentemente, porém, entre alguns dos clientes da concessionária Odebrecht Ambiental, ela mudou muito – e para melhor. Tudo graças à chegada da chamada autoleitura, que, num primeiro momento, veio para simplificar a vida do consumidor que mora nas cidades de Mauá e Limeira, no interior de São Paulo, e Palmas e Araguaína, no Tocantins. Com o tempo, mais cidades terão à disposição a solução que une tecnologia, internet e aplicativos para smartphone.
A autoleitura
Como o nome sugere, a autoleitura pressupõe a leitura do hidrômetro pelo próprio consumidor. O funcionamento do sistema é simples e começa com a atualização do cadastro do cliente, feita em poucos minutos por ele próprio, através do site da empresa. Com os dados em dia, o cliente então opta pela ativação da autoleitura e é informado das datas em que deverá anotar os números de consumo registrados no hidrômetro e remetê-los à concessionária – tudo pelo site da empresa. A conta chega por e-mail segundos depois do envio dos dados e pode ser paga imediatamente.
“A autoleitura é novidade no Brasil e atende de imediato principalmente àqueles clientes que já possuem hábitos digitais para resolver questões do dia a dia. Com essa nova funcionalidade, o próprio usuário pode controlar seu consumo mensal de água. Isso demonstra a confiança da empresa nos clientes, que cada vez tem mais autonomia e um papel importante nessa relação”, afirma Fernando Santos Reis, diretor presidente da Odebrecht Ambiental.
Os leituristas, agentes comerciais das empresas de saneamento, continuam a atuar na função estratégica de coletar dados de consumo e hábitos do clientes, principalmente no Brasil onde a evolução tecnológica no setor de medição começou agora. “Os leituristas fazem parte dessa mudança e, mais ainda, reforçam seu papel fundamental de relacionamento com os clientes, continuidade e comunicação sobre novas tecnologias aos usuários interessados em aderir ao aplicativo e a autoleitura, que ainda representam uma pequena parcela da população” afirma Beto Gerosa, responsável pelas estratégias digitais da Odebrecht Ambiental.
Fora do Brasil, a autoleitura já é usada em escala nacional por países como a Inglaterra, a Austrália e o Canadá, que recorrem à solução não só em grandes centros urbanos – como em Londres – mas também em regiões mais distantes e de difícil acesso, como as cidades nas bordas do estado de Queensland, na Austrália.
E na onda de crescimento dos aplicativos que facilitam o dia a dia das pessoas, nada mais prático do que resolver tudo pelo celular. A Odebrecht Ambiental também oferece, desde o início de agosto, um aplicativo para smartphones que consegue ler o consumo registrado no hidrômetro a partir de uma foto do relógio. Com software de reconhecimento de texto (ou OCR, sigla para “optical character recognition”), os números são reconhecidos, reproduzidos como caracteres de texto e remetidos automaticamente à prestadora de serviços. “Estamos buscando novas tecnologias no mercado com o objetivo de facilitar o acesso dos clientes aos nossos serviços. A autoleitura via OCR é uma evolução importante, que faz parte do nosso compromisso de atender com excelência”, complementa Fernando Santos Reis, diretor presidente da Odebrecht Ambiental.
O hidrômetro inteligente
Um mundo onde até a autoleitura já não é mais necessária existe fora do Brasil – e em breve pode chegar por aqui. Estamos falando do mercado de distribuição de água com os chamados hidrômetros inteligentes, um cruzamento de tecnologia com medição de consumo de água que já começou a revolucionar o segmento, mundialmente. O consumo pode ser acompanhado em tempo real pelos clientes e os dados enviados diretamente à concessionária, via radio frequência, por exemplo.
Segundo dados do levantamento “Global Water Metering Market Dataset” – conduzido em 2015 pelo Northeast Group LLC em 125 países – até 2025, nada menos que 22% do mercado mundial de hidrômetros será composto por soluções do tipo hidrômetro inteligente, ou “smart meters”.
Isso significa que, em nove anos, 400 milhões dos 1,8 bilhão de hidrômetros em funcionamento no mundo serão hidrômetros inteligentes. E este segmento do mercado será responsável por quase US$ 1,5 bilhão dos US$ 6,6 bilhões que o setor como um todo deve faturar mundialmente em 2025. “O hidrômetro inteligente é um bom exemplo de aplicação, em larga escala, da ‘internet das coisas’ (leia abaixo) à infraestrutura urbana”, afirma Ben Gardner, presidente e cofundador do Northeast Group.
Mas o que há de tão espetacular nos hidrômetros inteligentes para que o segmento cresça de forma tão importante nos próximos anos? Os hidrômetros clássicos são máquinas que impressionam por sua eficiência e simplicidade. Ao medir o fluxo de água, eles controlam o consumo do recurso por uma casa, comércio ou indústria e, no fim do mês, dão às prestadoras do serviço um número com o qual se calcula o quanto será cobrado do cliente. Os hidrômetros inteligentes também fazem isso. Mas vão além.
Em geral, os avanços todos partem de um mesmo ponto: a digitalização das informações de consumo. A partir do momento em que os dados desse registro – no Brasil feito em metros cúbicos – passam a ser representados como bits de informação, um mundo de possibilidades se abre que vai desde o processamento local desses dados pelo próprio hidrômetro inteligente, ao envio desses dados a centrais, que podem processá-los de praticamente qualquer maneira. Hoje, um modelo de hidrômetro que exemplifica bem essa safra moderna é o iPERL, da marca norte-americana Sensus, que atua no Brasil, mas ainda não vende esse modelo no País.
Nos Estados Unidos, onde mais de 50 milhões de “smart meters” já funcionam, o iPERL é usado em cidades pequenas como Gilbert, no Arizona, e grandes como Chicago, no Illinois. Nele, reúne-se boa parte das possibilidades criadas pelos “smart meters”, principalmente quando eles estão inseridos nas chamadas infraestruturas de medição avançada, que nada mais são que ambientes onde há a coleta e o processamento sistemáticos dos dados gerados por dispositivos como esse.
Os recursos do iPERL – e de outros “smart meters” de ponta disponíveis – impressionam. Não há necessidade de leitura mensal por um agente ou pelo consumidor, por exemplo, o que reduz os custos e praticamente zera erros e eventuais fraudes. O aparelho também envia dados de consumo por radio frequência para uma central a cada 15 minutos, o que significa 96 atualizações em um ciclo de 24 horas. Esses dados ficam disponíveis ao consumidor e à prestadora do serviço, que podem programar uma série de alarmes para disparar quando há consumo em volume ou horário atípicos, quando há suspeita de vazamentos, fraude ou perdas, e quando há sinais de ar ou danos aos dutos.
E mais: o cliente pode acompanhar seu consumo quase em tempo real e controlar os hábitos de sua família se perceber, no meio do mês, que o gasto está acima da média. Com as suspeitas de vazamento e picos de pressão identificados e relatados automaticamente pelo sistema, consertos podem ser feitos antes que um problema simples se agrave e as perdas de água sejam grandes. “As métricas, tão importantes em vários setores, serão fundamentais no saneamento”, diz Gardner, do Northeast Group. “Até 2025, metade da receita do mercado de hidrômetros virá de aparelhos inteligentes ligados em infraestruturas de medição avançadas”, afirma.
O que é a internet das coisas
A internet das coisas é uma camada da internet por onde sensores instalados em coisas como hidrômetros, casas, celulares e praticamente qualquer outro objeto que possa ser monitorado conversam entre si para fazer as nossas vidas mais confortáveis e eficientes. Por exemplo, será pela internet das coisas que, num futuro próximo, os dados gerados pelo seu hidrômetro trafegarão até chegar ao seu celular e à empresa de água e esgoto, avisando ambos de um vazamento ou coisa parecida.