SÃO PAULO – É provável que você já tenha visto essa cena em um supermercado. O cliente para em frente à gôndola e analisa atentamente o rótulo de um determinado alimento para checar as chamadas “propriedades nutricionais” e, então, decidir ou não pela compra. A quantidade de proteínas, carboidratos, açúcar, sódio: tudo tem que estar ali, segundo determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Mais difícil é encontrar alguém dirigindo essa mesma atenção à uma garrafa de água mineral. Nitrato, sódio, sulfato, fósforo, estrôncio, potássio, bário, brometo e até cobre, tudo isso está presente na água que compramos no mercado e naquela que chega às nossas casas.
Mas diferentemente dos alimentos, não é necessário se preocupar com a quantidade ou presença de cada um desses elementos na água que bebemos – que pode variar de cidade para cidade – nem em relembrar as aulas de química para entender o efeito de cada uma dessas substâncias no organismo. Esse trabalho cabe à Anvisa. Tanto a água mineral quanto àquela distribuída pelas empresas de saneamento são potáveis, ou seja, obrigatoriamente atendem a mais de 90 parâmetros de qualidade estabelecidos pela Portaria 2914 do Ministério da Saúde para receber a chancela da potabilidade.
Assim como as garrafas de água mineral, a água distribuída para a população também precisa de um “rótulo”, embora nem todo mundo saiba disso. As empresas de saneamento são obrigadas a divulgar todos os meses informações sobre as características da água, como turbidez, cor, e cloro residual. Os números estão na fatura mas, em geral, não chamam a atenção como aqueles que indicam o valor da conta. As concessionárias também emitem anualmente um relatório para todos os clientes, informando as características da água, quantidade de testes realizados, qualidade dos mananciais, entre outras informações.
Em Limeira (SP), por exemplo, foram realizados mais de 40 mil testes na água em 2015. O último relatório anual distribuído para os clientes pela Odebrecht Ambiental, empresa responsável pelos serviços de saneamento no município, mostra que aproximadamente 2 mil análises foram feitas apenas para verificar a quantidade de cloro na água. A cidade é um das poucas no Brasil em que as pessoas têm o hábito de beber água direto da torneira, o que – em teoria – pode ser feito em qualquer cidade, por qualquer pessoa, já que para chegar ao consumidor a água passou pelos testes estabelecidos pelo Ministério da Saúde. No relatório de Limeira é possível verificar, por exemplo, que o pH da água (que indica a acidez, neutralidade ou alcalinidade) é diferente quando comparado ao da água distribuída na vizinha Santa Gertrudes. Na prática, a nuance é praticamente imperceptível, mesmo para os paladares mais sensíveis e em ambas as cidades o índice está dentro dos padrões de potabilidade. Quem mora em São Paulo e costuma passear pelo litoral do Estado pode sentir alguma diferença na hora do banho. Em algumas cidades do litoral o sabão em contato com a água produz menos espuma, resultado da “dureza”, ou alcalinidade da água. Essas pequenas variações não prejudicam a qualidade da água e estão relacionadas às características dos mananciais onde é feita a captação.
Limeira também é referência quando o assunto é o flúor, item obrigatório para garantir a potabilidade da água e para a preservação da saúde bucal. No ano passado a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com o Conselho Regional de Odontologia do Estado de São Paulo (CROSP) e com o Centro Colaborador do Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal (CECOL/USP), analisou a fluoretação das águas de 98% dos 645 municípios do Estado de São Paulo e constatou que 30% estão com níveis inadequados de flúor. Limeira foi o destaque positivo do estudo, citada como modelo.
Coincidência ou não, o presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Santos-Reis, guarda em casa um rótulo da Água Mineral Santos Reis, da década de 1980, produzida a partir de uma fonte do Rio Grande do Norte e distribuída até hoje.
A recordação da água com o nome da família traz uma forte ligação com sua atuação profissional: Fernando Santos-Reis é responsável por entregar um produto de qualidade para os clientes atendidos pela empresa. Não apenas para cumprir a legislação. Ele defende que assim como qualquer outro produto, os clientes têm o direito de saber exatamente o que estão consumindo e que as informação divulgadas pelas operadoras de saneamento precisam ser claras. “A água é tão importante para a saúde das pessoas que é fundamental que elas sejam devidamente informadas sobre o que estão consumindo. Esses relatórios refletem o rótulo de um produto que garante a nossa vida”. Para indústrias que usam água em seus processos produtivos, as características da água são informações indispensáveis. “A presença excessiva de algum componente natural pode, por exemplo, reduzir a vida útil de um equipamento”, complementa Santos-Reis.
Os benefícios do consumo de água para a saúde são conhecidos e comprovados por diversos estudos. A quantidade não é exatamente uma unanimidade, mas a maior parte dos médicos fala em 2 litros por dia. De uns tempos pra cá, a água alcalina ganhou status de amiga da saúde devido a uma suposta ação antioxidante no organismo. Na Internet não é difícil encontrar receitas caseiras que ensinam a “alcalinizar” a água, usando, por exemplo, bicarbonato de sódio. Um perigo, segundo médicos, já que o consumo excessivo de bicarbonato pode trazer consequências para a saúde. Sobre os benefícios da água alcalina, nada de consenso. “Não há estudos suficientes para atestar que a água alcalina traz mais benefícios do que qualquer outra água devidamente tratada”, destaca a médica Ligia Albuquerque. “O importante mesmo é se hidratar”, completa.
Incolor, inodora, insipida. Não basta cumprir apenas as fases sensoriais para ter certeza que a água que você está consumindo é realmente segura. O Ministério da Saúde determina que as concessionárias responsáveis pelo serviço de abastecimento de água divulguem anualmente os dados relacionados ao liquido que está sendo distribuído. Dada a importância da água para a vida, os profissionais da saúde também indicam que a procedência da água seja no mínimo conhecida.
Informe-se para saber mais sobre a água distribuída na sua região e conheça os parâmetros que devem ser cumpridos pelas distribuidoras de água mineral e tratada determinados pelo Ministério da Saúde. A água que chega na sua casa também tem um rótulo e ele está aí, na fatura que você recebe todos os meses.