SÃO PAULO – Na verdade, um grande conflito por recursos hídricos não só é provável, como já tem feito algumas nações se estranharem. Isso tem acontecido porque, muitas vezes, os projetos dos governos não conversam e é aí que começa a discussão de como utilizar a água da melhor maneira.
Um dos exemplos mais recentes é o atrito que Egito e Etiópia enfrentam depois que esta última começou a construir uma grande represa no Rio Nilo Azul, o que poderá restringir o fluxo do Nilo. Já no Oriente Médio, que tem 5% da população mundial, mas só 1% da água potável, especialistas dizem que os rios Tigre e Eufrates poderão ser motivo de briga entre Israel, Líbano, Jordânia e Palestina.
Encrenca na Ásia Central
Depois que a União Soviética foi desfeita, há mais de 25 anos, o sistema que funcionava entre cinco nações da Ásia Central entrou em colapso. Quirguistão e Tajiquistão usavam parte de seus abundantes reservatórios para gerar eletricidade e irrigar colheitas, tanto para si mesmos quanto para os vizinhos Cazaquistão, Turcomenistão e Uzbequistão, que em troca compartilhavam gás e carvão.
Agora, Quirguistão e Tajiquistão enfrentam constantes apagões e querem construir grandes barragens para garantir energia para suas necessidades. O presidente do Tajiquistão, Emonali Rahmon, vive falando em construir uma barragem 355 metros, que pode não só quebrar a economia da nação, mas limitar o fornecimento de água para outros países.
Lago da discórdia
O governo do Turcomenistão está construindo um lago de 3,5 mil quilômetros quadrados no deserto. Encher o bendito lago vai levar 15 anos, 2,6 mil quilômetros de canais e muita, muita água desviada do Uzbequistão.
Em resposta, o ex-presidente uzbequistano Islam Karimov alertou em 2012 sobre um guerra real por causa da água. “Não vou dizer quais países são”, afirmou na época, claramente referindo-se aos seus vizinhos, “mas tudo isso pode chegar ao ponto de sérios conflitos, resultando até mesmo em guerras”.
A coisa ficou séria
Para se ter uma ideia de como a questão já é tratada com seriedade, o diretor de inteligência nacional dos Estados Unidos, Jamers Clapper Jr., disse que a falta de recursos naturais – incluindo a água – é uma ameaça tão grande quanto o terrorismo e a proliferação de armas nucleares. A declaração fez parte do relatório de Ameaças Mundiais de 2013, apresentado no ano seguinte.