SÃO PAULO – No Brasil, mais de 100 milhões de pessoas não contam com os serviços de coleta de esgoto. O número, por si só, já é alarmante, mas quando esse índice vem acompanhado por imagens de localidades onde o saneamento passa longe -, e depoimento dos moradores que convivem diariamente com o problema -, o choque é ainda maior. Mostrar essa dimensão “material” é uma das propostas do documentário “A Realidade do Saneamento Básico no Brasil”, produzido pelo Instituto Trata Brasil, que realizou no último dia 22 uma exibição especial do filme no Observatório do Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro.
Veja o teaser do documentário “A Realidade do Saneamento Básico no Brasil”
O filme traz imagens de Jardim Canaã, em Itaquequecetuba (SP), de comunidades no entorno do Rio Guaíba, em Porto Alegre (RS), e outras regiões do Brasil que ainda convivem com falta de água tratada e esgoto a céu aberto. O cartunista Maurício de Sousa, a ex-ginasta Daiane dos Santos e o velejador Lars Grael, ao lado de profissionais da saúde e outros especialistas no tema, reforçam no documentário a necessidade de trazer essa realidade para mais perto das pessoas. “Nesse momento de cobrança nós temos que lembrar da relevância do saneamento”, destaca Grael. O presidente do Trata Brasil, Édison Carlos (na foto), lembrou que o país tem hoje 7 mil comunidades irregulares nas quais os serviços de saneamento só podem ser garantidos caso haja algum tipo de regularização fundiária, o que torna o desafio da universalização ainda maior. “Falta um maior engajamento e mobilização”, destaca Édison. “O saneamento básico é um direito e nem todo mundo sabe disso”, completa. O filme mostra que, no Brasil, há mais escolas com acesso à internet do que coleta de esgoto.
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Cartão Postal
Com vista para a Baía de Guanabara, que recebe cerca de 8 mil litros de esgoto por segundo, o evento no Museu do Amanhã contou com um debate que lembrou dos planos frustrados para a despoluição deste cartão postal do Rio de Janeiro. Dos 15 municípios que ficam no entorno da Baía de Guanabara somente Niterói avançou na oferta de serviços de saneamento. Na capital do Estado, o avanço mais considerável é a inauguração da Nova Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Zona Oeste para tratar efluentes dos bairros de Bangu, Deodoro, Realengo, Padre Miguel, Magalhães Bastos, Jardim Sulacap e Vila Militar. Com capacidade para atender 430 mil pessoas, a estação, localizada em Deodoro, é a maior dentro da concessão de saneamento da Área de Planejamento 5 (AP5), que abrange 21 bairros, o que corresponde a 48% do território municipal.
Quando atingir sua capacidade plena de trabalho, 65 milhões de litros de esgoto deixarão de ser despejados diariamente na Baía de Guanabara. “A nova estação é uma iniciativa importante para a diminuição de despejo de esgoto na Baía de Guanabara, mas a despoluição passa pelo avanço da oferta de serviços de coleta e tratamento de esgoto em outros municípios”, destaca Sinval Andrade, diretor da Foz Águas 5, concessionária responsável pelos serviços de esgoto da AP5.
Nas próximas semanas o Trata Brasil vai disponibilizar o filme completo em seus canais. Para mais informações acesse o site do Trata Brasil.