SÃO PAULO – Um problema em comum afeta cidades tão diferentes quanto o Rio de Janeiro, segunda maior metrópole do país, e Santa Isabel do Rio Negro, município do Amazonas com apenas 20 mil habitantes. Ambas apresentam alta frequência de giardíase, infecção intestinal que afeta principalmente crianças e pode prejudicar o seu desenvolvimento. De acordo com dois estudos realizados por equipes de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, a incidência decorre da falta de tratamento de água e esgoto nos dois municípios.
O estudo realizado na cidade amazonense contou com a participação de 433 crianças e adolescentes menores de 14 anos e identificou infecção intestinal pelo parasito Giardia intestinalis em 17% das amostras analisadas. O índice foi ainda maior entres as crianças as crianças de dois a cinco anos, chegando a 22%. Já na cidade do Rio de Janeiro, pesquisa com 89 crianças menores de quatro anos frequentadoras de uma creche em uma comunidade detectaram infecção por giárdia em quase 50% dos casos.
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Os dados em Santa Isabel do Rio Negro mostram que a doença ocorre em todos os bairros da área urbana do município, com alguns locais de maior incidência, principalmente nas proximidades do Rio Negro. A infecção afeta da mesma forma as crianças de famílias com diferentes faixas de renda, tanto acima como abaixo da linha de pobreza.
No Rio de Janeiro, o resultado foi considerado surpreendente: em 15 casos, foi identificada a presença do chamado genótipo E, considerado por muito tempo como causador de infecções unicamente em animais de produção, como cavalos, bois e porcos.
Para os pesquisadores dos dois estudos, os dados refletem a carência de saneamento básico, uma vez que a transmissão da giardíase ocorre a partir da ingestão de cistos de giárdia, que são liberados nas fezes de pacientes e animais infectados. Nestes locais, onde a coleta de esgoto e a água tratada não chegam a todas as casas, pode ocorrer a contaminação das fontes de abastecimento de água, facilitando a disseminação do protozoário. Além de permanecer viáveis no ambiente por meses, os cistos do parasito são resistentes ao cloro.