SÃO PAULO – No começo do século passado, o Brasil assistia a uma caçada sem precedentes ao mosquito Aedes aegypti. Era a época de figuras como o sanitarista Oswaldo Cruz, o presidente Rodrigues Alves e o implacável combate ao mosquito que tinha como maior mal a transmissão da febre amarela. Naquele tempo, a dengue ainda era um mal distante, e os médicos nem sequer podiam imaginar no que viria a ser zika e chikungunya.
Mais de 100 anos depois, o Brasil volta – mais uma vez – a ter o Aedes aegypti como o pior inimigo do verão. A bola da vez parece ser o chikungunya. Logo nos primeiros dias de 2017, o Secretário de Saúde do município do Rio de Janeiro, Carlos Eduardo Matos, disse em entrevista ao jornal O Globo que uma epidemia de chikungunya pode atingir metade dos cariocas (ou mais de 3 milhões de pessoas) neste verão. Fora isso, um levantamento do Ministério da Saúde aponta que ao menos 855 municípios brasileiros estão em situação de alerta ou risco de novas epidemias das doenças que tem o Aedes como vetor.
Elevação constante de casos
“Estamos falando de dados que podem ou não se confirmar. De qualquer forma, eles consistem em um grande alerta para tomar ações antes que a epidemia aconteça”, afirma José Augusto Britto, coordenador da Rede Dengue, Zika e Chikungunya da área de Atenção à Saúde da Fiocruz. O que já se tem por certo é que, independente de as previsões se tornarem realidade, haverá um impacto maior na área da Saúde com o crescimento de casos.
O chikungunya é uma doença transmitida pelo Aedes aegypti – assim como a dengue ou a zika – e que foi identificada no Brasil pela primeira vez em 2014. Não por acaso, o nome chikungunya significa “aqueles que se dobram” em um dos idiomas da Tanzânia, uma referência clara à intensidade das dores.
Embora tenha baixa letalidade, a doença é altamente incapacitante. Além de provocar febre alta e dores musculares, pacientes com chikungunya apresentam, em geral, dores intensas nas articulações que podem dificultar atividades rotineiras. Caso os sintomas da chikungunya se prolonguem por mais de 15 dias, há chances de a doença se tornar crônica. Assim, as intensas dores nas articulações podem permanecer por mais de dois anos.
Saneamento básico e saúde
“ Vale ressaltar que o problema final é na saúde, mas essas doenças não têm seu início na saúde. É uma questão relacionada à coleta de lixo, oferta de água e tratamento de esgoto, pois o vetor da doença é que precisa ser combatido”, diz Britto.
De fato, é preciso um olhar para além da saúde pública para combater o Aedes aegypti. Em cidades ou áreas onde não há coleta sistemática de lixo, a situação se agrava. Basta que chova para que o lixo acumulado crie novos criadouros do mosquito. Valas de esgoto a céu aberto, eventualmente diluída pela chuva, pode servir como criadouro do Aedes.
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Outro problema de saneamento que tem ligação direta com a proliferação de mosquitos é o abastecimento de água descontinuado. Isso porque, a situação força os moradores de uma casa com constante falta d’água a estocar o recurso em galões, baldes e garrafas. Como nem todos tampam de forma correta os recipientes, ela vira criadouro de mosquitos.
Falta de saneamento cria ambiente ideal para o Aedes
Como se vê, há uma relação direta entre sistemas de saneamento deficientes e proliferação dos mosquitos transmissores de doenças como dengue, zika e chikungunya. E não por acaso o Brasil vivencia repetitivos surtos dessas doenças ao mesmo tempo em que apresenta dados tão baixo de saneamento básico.
Corrigir o déficit de saneamento no Brasil, embora seja tão urgente, ainda está longe de ser atingido. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), mais de 35 milhões de brasileiros ainda não têm acesso aos serviços de água potável, 100 milhões (ou metade da população) não têm serviço de coleta de esgoto e apenas 40% de todo o esgoto produzido no Brasil é tratado. Há ainda uma lacuna a ser preenchida nos serviços de coleta de lixo: 17 milhões de pessoas não têm acesso ao serviço regular.
Isso fez com que algumas empresas que prestam serviços de água e esgoto percebessem que além de fazer obras de expansão do atendimento aos clientes e a redução das intermitências no fornecimento de água, era necessário também engajar a população em campanhas de conscientização sobre os riscos da proliferação de mosquito e as melhores práticas para evitar epidemias.
“Todo o verão, a população teme novos surtos de doenças como dengue, zika e agora a chikungunya. Sabemos que o avanço do saneamento é uma resposta efetiva no combate destas doenças, mas o déficit ainda é tão grande que vimos a necessidade de trabalharmos campanhas de engajamento junto à população sobre medidas de combate ao mosquito”, afirma Fernando Santos Reis, que presidiu a Odebrecht Ambiental nos últimos 9 anos.
Aedes Nunca Mais
Com isso, a Odebrecht Ambiental lançou neste mês a campanha “Vamos Falar de Saúde e Saneamento”, uma série de vídeos cheios de dicas e informações. Desde o ano passado, a empresa deu início a um esforço de comunicação em apoio às ações de combate ao Aedes. A ação engloba todas as operações da empresa no Brasil e tem mostrado bons resultados.
Uma ação que tem se mostrado muito efetiva é a disseminação de informações por meio dos leituristas, que têm contato direto com moradores. Nesta época do ano, eles distribuem materiais educativos e trocam informações para incentivar ações da população.
Desde antes dos tempos de Oswaldo Cruz, o combate ao Aedes tem se mostrado um grande desafio. Já foi comprovado que a melhor resposta tem sido unir ações de ampliação do saneamento básico, investimento em saúde e a conscientização da população para os risco das doenças e de novas epidemias.