SÃO PAULO – Empresas pelo mundo perderam pelo menos US$ 14 bilhões, o equivalente a cerca de R$ 45 bilhões, com instâncias de seca e de escassez de água em 2016. Os números são da sétima edição do “Annual Report of Corporate Water Disclosure”, produzido pelo Carbon Disposure Project (CDP). Os responsáveis pelo estudo ouviram 607 empresas de mais de 20 países a pedido de investidores com US$ 67 trilhões em ativos que querem entender o custo que a falta de água e a má gestão de recursos hídricos têm para os negócios. Mais de 1,2 mil empresas foram abordadas pelos pesquisadores – isso significa que pouco mais da metade respondeu à pesquisa, o que sugere que os prejuízos podem ter sidos substancialmente maiores que US$ 14 bilhões.
“Todos os negócios em todos os setores precisam de água de um jeito ou de outro”, disse Morgan Gillespy, responsável pelo setor de estudos ligados à água no CDP, ao jornal inglês The Guardian. “Tratar dos riscos associados à água é vital para a continuidade dos negócios, para a proteção dos lucros e para viabilizar uma resposta às mudanças climáticas”, afirmou. As 14 empresas e grupos empresariais brasileiros procurados pelos pesquisadores do CDP responderam à iniciativa com informações não só sobre eventuais prejuízos, mas também sobre boas práticas de gestão de recursos hídricos. Segundo o relatório, a Hewlett-Packard (HP) Brasil, por exemplo, reportou que, em 2016, teve de aumentar suas despesas com energia elétrica em US$ 5 milhões em função dos impactos da seca na geração de hidroeletricidade.
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Já a Duratex SA, empresa brasileira do setor de derivados de madeira, louça e metais, foi lembrada pelos esforços no sentido de usar os recursos hídricos disponíveis de forma mais eficiente. De acordo com o documento, a empresa reduziu o consumo de água tratada em sua unidade de Botucatu, no interior de São Paulo, em 6.6% entre 2015 e 2016 com a implantação de um sistema de reúso de água e de monitoramento intensivo e eletrônico do consumo. Já nas instalações de Taquari, no interior do Rio Grande do Sul, a empresa espera zerar sua produção de efluentes até o final de 2017, quando a instalação de um sistema parecido for concluída. Segundo o relatório, as medidas tomadas pela Duratex SA fazem parte de uma Plataforma de Sustentabilidade do grupo que tem como objetivo tratar a questão da água de forma estratégica e em longo prazo.
Metas que funcionam
Em um documento produzido pelo mesmo CDP e parceiros como o Pacific Institute e a WWF intitulado “Exploring the Case for Corporate Context-based Water Targets”, os pesquisadores exploraram os desafios de estabelecer metas corporativas para o consumo consciente e a gestão eficiente de recursos hídricos.
Em linhas gerais, o documento defende que as boas metas são estabelecidas levando em conta as especificidades locais de cada operação de um dado grupo ou setor empresarial e que as soluções devem estar sempre amparadas pela melhor ciência disponível. Estabelecer metas sem levar essas nuances locais em conta e sem base científica é abrir caminho para interesses outros que não o de fazer uma gestão eficiente dos recursos hídricos no ambiente corporativo.
O documento também lembra da importância da integração entre o setor público que, efetivamente, faz a gestão desses recursos e o privado. O texto sugere, ainda, que sempre se envolva todos os interessados na hora de estabelecer essas metas – além da empresa e de representantes do setor público, membros da sociedade civil, afetados pelo consumo de água da empresa, outras companhias que também consomem os recursos na região, entre outros.