SÃO PAULO – Depois de dois anos em guerra civil, o Iêmen, nação na região sudoeste da Península Arábica, agora enfrenta a maior epidemia de cólera do mundo. De acordo com informações da Unicef (Fundação das Nações Unidas para a Criança) e da OMS (Organização Mundial da Saúde), já são mais de 200 mil casos registrados. O país tem população de 28,3 milhões de pessoas, segundo dados do Banco Mundial. Cerca de 1,5 mil pessoas já morreram em função da doença – sendo pelo menos 325 crianças -, e cinco mil novos casos são contados todos os dias. A epidemia já pode ser considerada uma crise humanitária.
Infraestrutura de saneamento destruída
Segundo representantes de instituições humanitárias em solo, a crise deve ser atribuída, em grande parte, à destruição da infraestrutura de saneamento básico do país pela guerra. “São milhões sem acesso à água potável e ao recolhimento de esgoto”, escreve a revista Nature, em seu serviço de notícias.
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A cólera, segundo o “Médicos Sem Fronteiras”, “é uma infecção intestinal aguda causada pela ingestão de água ou alimentos contaminados” pela bactéria Vibrio cholerae. A doença “surge em contextos que envolvem superlotação e acesso inadequado a água limpa e saneamento”, e causa “diarreia profusa e vômitos que podem levar à morte” por desidratação em questão de horas.
Guerra civil
O governo do Iêmen está em guerra civil com os rebeldes Houthi desde 2015. Apesar da assistência que vem sendo dada ao país pela nação vizinha Arábia Saudita, as dificuldades logísticas, o colapso econômico e os constantes ataques aéreos forçaram 70% da população a viver em condições precárias. Hoje, 25% da população está à beira da fome. “E o sistema de saúde está em vias de colapso”, disse Jason Beaubien, da Unicef, à NPR, uma rede pública de rádio norte-americana.
Não é incomum haver grandes epidemias durante guerras. Nos anos 1990, por exemplo, cerca de 400 mil casos de malária foram registrados durante os conflitos civis no Tajiquistão, na Ásia Central. E, recentemente, 17 crianças Sírias foram diagnosticadas com poliomielite, uma doença tida como erradicada, mas aflora em regiões de conflito. A própria cólera matou pelo menos um milhão de pessoas na Rússia em meados do século 19.