SÃO PAULO – Em meio a uma das piores crises hídricas da história do Distrito Federal, o estádio Mané Garrincha, que fica em Brasília, fechou o mês de maio com consumo de água 62 vezes maior que a média. Segundo a Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal), o estabelecimento consumiu 94,2 milhões de litros nos 31 dias do mês, o que rendeu uma conta de R$ 2,3 milhões – normalmente, a conta mensal fica em R$ 37 mil. Trata-se de água suficiente para abastecer, por um mês, uma cidade de até 20 mil pessoas.
Uma sindicância foi aberta pelo Governo do Distrito Federal para apurar as responsabilidades pela discrepância. Pois na última semana, a apuração foi concluída e revelou a culpada: uma “ligação hidráulica indevida”, que, segundo o portal G1, foi acionada e desviou a água para consumo distribuída pela Caesb para quatro reservatórios de águas de chuva.Como a água “desviada” não caiu na rede de esgoto e permaneceu estocada nos reservatórios, o líquido foi recuperado e devolvido à Caesb, que reembolsou o estádio Mané Garrincha em cerca de R$ 1,2 milhão.
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A investigação, porém, não terminou. Segundo o governo, ela continua para revelar por que a ligação indevida existe e, principalmente, por que foi acionada. Questionado pelo G1 sobre uma possível sabotagem, o secretário da Casa Civil, Sérgio Sampaio, disse que “não descarta nenhuma hipótese”. Enquanto não se chega a uma conclusão, a ligação indevida será removida para eliminar qualquer risco de um novo acionamento.
Brasília enfrenta racionamento de água pela primeira vez na história
Em meados de janeiro de 2017, o Distrito Federal decretou, pela primeira vez em sua história, o racionamento de água em regime de rodízio. A crise hídrica que atingia e ainda atinge a região chegou a um de seus pontos mais críticos quando a medida entrou em vigor. Hoje, entre 16 e 18 regiões ficam sem água no Distrito Federal “por vez”.
No último domingo, por exemplo, foi a vez do Núcleo Bandeirante, Águas Claras, Candangolândia, Ceilândia Leste (QNM, QNJ e QNL), Park Way, C.A. IAPI, Setor de Postos e Motéis, Metropolitana, Samambaia, Setor de Mansões de Taguatinga, Vila Cauhy, Vargem Bonita, Asa Sul (todas as quadras, incluindo os Anexos dos Ministérios-Sul), Lago Sul (QL 02 a 08, QL 12 a 28, QI 01 a 29), Jardins Mangueiral, SMDB, Setor Habitacional Dom Bosco e Condomínio Privê Morada Sul ficarem sem água. A interrupção no abastecimento começa às 8h e começa a ser restabelecida, gradualmente, 24 horas depois.
Regime de chuvas
De fato choveu menos no DF no último ano. Historicamente, o volume de chuvas de setembro a dezembro na Bacia do Alto do Descoberto é de 669 milímetros. Porém, no mesmo período do ano passado, esse número não ultrapassou os 520 milímetros. Outro forte agravante foi ter chovido pouquíssimo nos primeiros nove dias de janeiro, apenas 2,27% da média histórica para o mês que é de 240 milímetros. Houve ainda aumento de consumo, 16% per capita nos últimos seis anos. Somado a pouca chuva e o aumento de consumo, há ainda o baixo investimento em obras estruturantes, principalmente as voltadas para novas captações de água.
O cenário, obviamente, lembra a crise hídrica ocorrida em 2014 no Estado de São Paulo. A estiagem no Distrito Federal começou em 2016, possivelmente como reflexo do fenômeno climático El Niño e, assim como na crise paulista, um ano antes da seca, não havia crise e os reservatórios operavam com 100% de suas capacidades.
“O caso de Brasília é muito parecido com o de São Paulo, são vários fatores similares. O principal deles é o crescimento urbano. A densidade populacional aumentou muito em Brasília, especialmente nas cidades-satélites, e a capacidade para fornecer água não acompanhou na mesma proporção”, disse à revista Época, Julio Sampaio, coordenador do programa Cerrado da ONG WWF-Brasil.