SÃO PAULO – A construção de um futuro de segurança hídrica passa, invariavelmente, pelo consumo eficiente de água por quem mais usa esse recurso: a agricultura. Segundo estimativas da Organização das Nações Unidas, 70% de toda a água no mundo é usada pelo setor. No Brasil, o percentual salta para 72%. Pior: segundo Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Inovação (FAO), até 60% desses dos recursos usados no setor são perdidos para fenômenos como a evaporação até a chegada às plantações. Otimizar o consumo na área, portanto é uma prioridade.
Nesse sentido, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) organizou o Fapesp Week Nebraska-Texas, nos Estados Unidos, em parceria com a University of Nebraska – Lincoln, e a Texas Tech University. Embora o foco tenha sido a eficiência no setor da agricultura de maneira mais ampla, houve espaço dedicado, especificamente, à eficiência no consumo de água pelo setor.
Irrigação variada
Christopher Neale, diretor Water for Food Institute, da University of Nebraska, apresentou seu trabalho na área dos sistemas de irrigação variada. Nesse sistema, com ajuda de novas tecnologias, faz-se o dimensionamento, ou a “prescrição” de volumes de água específicos para microrregiões das plantações. Ou seja, o sistema leva em conta variáveis como umidade do solo e do ar, regime de chuvas, radiação solar e incidência de ventos, entre outros, para recomendar uma quantidade específica de água a uma região específica da plantação. Isso significa que um dado quadrante de uma plantação de milho, por exemplo, pode ser mais ou menos irrigado que outro.
“No campo agrícola típico, o solo não é uniforme. Há manchas que diferem quanto a sua capacidade de retenção de água, capacidade de infiltração. É preciso prestar atenção nesses fatores, pois a água em excesso pode causar erosão”, disse Neale à Agência Fapesp. Hoje, o sistema já funciona em parte das plantações no Nebraska, nos Estados Unidos, mas ainda trata-se de uma solução relativamente cara. Com o passar do tempo, a expectativa é que a irrigação variada fique mais em conta e ajude o setor a consumir água de forma mais eficiente.
Monitorando a evapotranspiração
Já o brasileiro Fernando Braz Tangerino Hernandez, professor da Faculdade de Engenharia (FEIS) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Ilha Solteira, fez palestra sobre seus estudos acerca da evapotranspiração – que diz respeito tanto à transpiração das folhas quanto à evaporação da umidade armazenada no solo. Ele e membros de seu grupo de estudo criaram um método para estimar as perdas por esses processos para auxiliar no dimensionamento da irrigação. “Usamos dados de oito estações meteorológicas espalhadas no noroeste paulista para estimar a transferência de água para a atmosfera e assim calcular em larga escala o quanto é preciso repor”, explicou Hernandez à Agência Fapesp.