SÃO PAULO – Em janeiro, o mundo se surpreendeu com as notícias que vinham da Cidade do Cabo. “Chegamos a um ponto sem retorno”, disse Patricia de Lille, prefeita da segunda maior aglomeração urbana da África do Sul, com 4 milhões de habitantes. Depois de três anos de seca sem precedentes, disse Lille, a água da cidade acabaria em abril.
Desde então, a situação na região mudou. Embora a crise hídrica seja gravíssima, durante o mês de fevereiro, a data do “fim da água” – no começo do mês fixada em 16 de abril – foi continuamente postergada graças à economia imposta à população. Hoje, a data do que o governo chama de “Day Zero” (“Dia Zero”, em tradução livre) está em 15 de julho de 2018. A partir dessa data, a distribuição será interrompida a todas residências e comércio, com exceção de hospitais, escolas e algumas poucas instituições fundamentais ao funcionamento da cidade
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Passado o “Day Zero”, os habitantes da cidade terão de buscar água, diariamente, em 200 postos espalhados pelo município. Cada cidadão poderá captar 25 litros de água por dia. Para garantir que o limite seja respeitado, todos os 200 postos terão forte esquema de segurança, com policiais armados e treinados para proteger as fontes de água.
O que mudou?
Desde que os prognósticos para o fim da água na Cidade do Cabo ganharam tons apocalípticos, algumas importantes mudanças aconteceram.
A primeira delas foi que fazendeiros no entorno da cidade, que até recentemente acumulavam água usando barragens, liberaram o recurso para que ele escoasse em direção ao reservatório que atende a cidade. Segundo os fazendeiros, depois de anos de seca, eles se adaptaram ao regime inferior de chuvas e já não precisam de estoque tão grande do líquido – que pôde ser redirecionado. Pelo menos 10 milhões de litros foram enviados para a cidade depois da abertura das comportas.
Outra mudança importante foi na atitude dos moradores da cidade. Na época do anúncio da contagem para o “Zero Day”, apenas 55% respeitavam o limite de 87 litros de consumo do recurso por dia por habitante. Embora a prefeitura não tenha liberado novas informações sobre a participação da população nos esforços pela redução, é sabido que mais gente está economizando. Ajuda, também, que, recentemente, a meta de consumo por habitante foi reduzida a 50 litros por dia.
Com tantas mudanças, já há, até, quem questione o “pânico” criado pela prefeitura ao anunciar o “Zero Day”. As autoridades se defendem e dizem que a decisão de anunciar a situação de maneira incisiva foi fundamental para que as atitudes mudassem. O governo argumenta, ainda, que o risco de desabastecimento segue sendo bastante real.
Como a Cidade do Cabo chegou ao “Day Zero”
Segundo climatologistas locais, a seca de três anos que jogou a Cidade do Cabo no caos hídrico é o tipo de evento climático que acontece uma vez a cada mil anos. Ou seja, dada a gravidade e o ineditismo do evento, mesmo a mais organizada e desenvolvida das cidades não passaria incólume por um desastre natural como esse. Mas, algumas coisas poderiam ter sido feitas de maneira diferente pela cidade e pelo governo federal da África do Sul para evitar o pior, que hoje parece inevitável.
Leia mais sobre o histórico da Cidade do Cabo na matéria que o Juntos Pela Água fez sobre o assunto.