SÃO PAULO – Pelo menos 2,6 bilhões de pessoas no planeta, o equivalente a mais de 30% da população mundial – vivem sem acesso à privadas seguras. Meninas e mulheres são especialmente afetadas pelo problema, já que essa ausência representa riscos importantes à saúde e até à vida de quem precisa se expor à violência para ir ao banheiro. Ciente dessa demanda humanitária que é, ao mesmo tempo, uma oportunidade comercial, Diana Yusef criou a startup change:WATER Labs, que, por sua vez, desenvolveu uma privada revolucionária que não precisa de água, energia ou encanamentos para funcionar. O produto ainda não tem nome oficial.
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A tecnologia por trás da solução, que é proprietária e foi criada pela change:WATER Labs, usa um polímero capaz de drenar 95% da umidade dos excrementos sem usar energia. A água é liberada para o ambiente em forma de vapor através de um filtro que elimina boa parte dos odores associados aos excrementos – que ficam, desidratados, em um saco ocupando pequeno volume. Isso permite que uma casa sem água ou esgoto com até seis pessoas use a mesma privada durante duas semanas com apenas um saco. Em breve, uma nova versão da privada deve dobrar essa capacidade. “É quase como ter uma privada que dá descarga”, disse Yusef à Fast Company, uma revista norte-americana.
Yusef e a privada
Especializada em biologia estrutural – um ramo da biologia molecular – Yusef já trabalhou com uma série de empresas e organizações ajudando-as a levar inovações acadêmicas para o mercado. Suas passagens pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial, a consultoria McKinsey e uma aceleradora da Nasa (Agência espacial Norte-americana) e da USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) deram a ela o know-how necessário para fundar a change:WATER Labs, em 2015.
Hoje, o projeto que começou na casa da Yusef faz parte do MIT D-Lab, uma organização do prestigioso Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e já recebeu US$ 250 mil, o equivalente a cerca de R$ 800 mil, em investimentos. Nos próximos meses, dois projetos piloto testarão 20 unidades da privada nos estados do Colorado e Utah, nos Estados Unidos. A empresa de Yusef também é uma das finalistas do prêmio Chivas Venture, que distribui US$ 1 milhão (R$ 3,3 milhões), e, em abril, estará na disputa por outros US$ 100 mil (R$ 331 mil) em financiamento. Segundo estimativas, a privada, quando finalmente lançada, deverá custar entre US$ 200 (R$ 661) e US$ 350 (R$ 1,2 mil) e, cada saco reciclável para reposição, entre US$ 3 e US$ 15 (R$ 10 a R$ 50).