SÃO PAULO – Com a ajuda de mais de três milhões de imagens de satélite, pesquisadores conseguiram criar o mais detalhado mapa das águas superficiais da Terra. As imagens, divulgadas no periódico científico Nature, mostram o quanto lagos, rios, pântano, geleiras e reservatórios – oceanos não foram pesquisados – mudaram ao longo dos últimos 32 anos. A conclusão da pesquisa é que, embora muitas áreas de águas permanentes tenham desaparecido em todas as regiões do mundo, a quantidade de novas áreas que surgiram foi muito maior.
O estudo liderado pelo Centro de Pesquisas Conjuntas da Comissão Europeia, e com a colaboração de engenheiros do Google, calculou que o total de água superficial na Terra aumentou nas últimas três décadas mais de 180 mil km2 – com novos corpos d’água permanentes sendo formados no planeta. Porém, outros quase 90 mil km2 de água superficial permanente desapareceram.
À primeira vista, o resultado do estudo parece positivo – há mais água disponível na superfície do planeta. No entanto, é preciso levar em conta de onde vem esse acréscimo. A maior parte provém da construção de reservatórios em nações mais ricas.
Ação do homem
De acordo com os pesquisadores, grande parte do aumento dos corpos d’água está relacionada com com a construção de reservatórios, alterações climáticas (por exemplo, derretimento acelerado de geleiras no Tibete), seca e atividades humanas, como desvio de rios, represamento e uso não regulamentado.
A maior parte dessa perda de água superficial ocorreu em apenas cinco países: Cazaquistão, Uzbequistão, Irã, Afeganistão e Iraque.
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O Cazaquistão e o Uzbequistão perderam quase todo o Mar de Aral – o quarto maior lago do mundo, no passado. Irã, Afeganistão e Iraque perderam 56%, 54% e 34% das águas superficiais, respectivamente.
O estudo não analisou o motivo de isso estar acontecendo, mas outros estudos mostram que a seca, o desvio do rio e a extração não regulamentada para irrigação são os principais fatores.
Muito mais detalhado
O mapa, com grau inédito de detalhamento, foi construído a partir de mais de três milhões de imagens do satélite Landsat (1.823 terabytes de dados) coletados entre 1984 e 2015. Foram necessários 10 mil horas de computadores trabalhando para transformar as imagens originais em um conjunto de mapas globais com resolução de 30 metros.
Elas permitem aos usuários retroceder no tempo para medir as mudanças no local e a persistência das águas superficiais globalmente, por região ou para uma área específica. O Global Surface Water Explorer tem acesso gratuito para todos.
Na mesma edição da Nature, o climatologista Dai Yamazaki, da Agência Japonesa de Tecnologias e Ciências da Terra e do Mar, comentou que o mapa é o maior avanço até hoje na compreensão das mudanças ocorridas nas águas superficiais do planeta.
Afinal, saber onde e quando a água é encontrada na superfície do planeta é extremamente importante, pois influencia o sistema climático, o movimento de espécies, o desenvolvimento sustentável e social, institucional e segurança econômica.