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SÃO PAULO – Um mundo de eventos extremos cria situações inusitadas como o que está acontecendo na paisagem da Califórnia. Após um longo período “rezando” por chuva, californianos agora mudam de prece e pedem para que a chuva cesse. As fortes chuvas dos últimos dias mudaram quase que completamente o cenário da seca épica que assola o estado norte-americano há cinco anos. Agora há inclusive risco de inundações.

A chuva foi tanta que os reservatórios, que antes atingiram mínimos históricos, estão em alta capacidade ou transbordando. No reservatório do lago Oroville e da barragem de Oroville a situação foi próxima da trágica: quase 200 mil moradores da região tiveram que abandonar suas casa sob risco de que a área fosse inundada após a ruptura da barragem.

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Reservatório de Oroville após anos de seca transbordou e colou moradores em risco (Foto: City of Oroville)

Mesmo sendo muito mais branda, qualquer semelhança entre o que está acontecendo na Califórnia com a atual realidade no estado de São Paulo  não é mera coincidência. Afinal, mudanças climáticas têm como consequências eventos extremos como secas históricas e tempestades memoráveis. Cabe às cidades se prepararem para as constantes mudanças.

Fatos como o de Oroville e das fortes chuvas na Califórnia levantaram obviamente a questão: é o fim do problema de seca na Califórnia? A resposta é sim e não.

De acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), a resposta sim (o fim da seca) vai para a metade norte da Califórnia que recebeu muita chuva neste inverno e está livre da seca. Já a parte sul do estado americano ainda está em seca moderada a severa. O condado de Santa Barbara, onde um lago que fornece sua água permanece com 16% de capacidade apesar da chuva em outros lugares do estado, ainda está experimentando seca extrema.

Seca acabou, problema hídrico permanece
O hidroclimatologista e cientista-chefe do Pacific Institute, Peter Gleick, ressalta em artigo no jornal The Mercury Times que o fim da seca não significa o fim dos problemas hídricos na Califórnia.

Para ele, um problema que permanece mesmo com as recentes chuvas é a situação dos aquíferos. No estado americano, o uso de água subterrânea muitas vezes excede a recarga natural e nos últimos cinco anos o desequilíbrio foi enorme. “Com as chuvas e a elevação dos reservatórios, é esperado que haja uma queda nas retiradas de água subterrânea, mas isso não impedirá alguns descobertos contínuos, nem ajudará milhares de pessoas em comunidades desfavorecidas cujos poços se secaram no Vale Central”, disse.

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Gleick afirma ainda que uma coisa que não pode ser esquecida com a chuva é o uso eficiente da água. “Cada galão de água que você deixa de usar gera economia, deixa a água em reservatórios e aquíferos, reduz o uso de energia e protege os ecossistemas. Os californianos fizeram um grande trabalho conservando a água durante a seca. Devemos manter esses esforços, mesmo quando está chovendo”, disse.

Para ele, a resposta pertinente não é se a seca acabou, mas se estamos gerindo a água de uma forma sustentável para o longo prazo. “Infelizmente, a resposta para essa questão ainda é não”.