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A fundação holandesa “The Ocean Cleanup”, que criou flutuadores que limpam autonomamente os plásticos jogados nos oceanos, anunciou que lançará ao mar a primeira versão oficial do produto até maio de 2018 – dois anos antes do previsto. A informação veio depois de a fundação confirmar que levantou US$ 21,7 milhões, o equivalente a pouco mais de R$ 70 milhões, para a financiar a iniciativa. O primeiro flutuador oficial funcionará na chamada “Grande Porção de Lixo do Pacífico”, uma das regiões mais inóspitas e poluídas dos oceanos. Segundo a fundação, o objetivo, nos primeiros cinco anos de projeto, é limpar pelo menos 50% do lixo que flutua na região. “Nosso método é o de testar e aprender, por isso tenho confiança de que vamos ter sucesso na nossa missão”, disse Boyan Slat, 23 anos, criador do projeto. “A limpeza dos oceanos do mundo está próxima”.

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Inicialmente, flutuadores de até um quilômetro de comprimento devem ser lançados no oceano Pacífico. Os aparelhos boiam livremente na superfície do mar, sem ancoragem, e vagam com as ondas e as marés. Um mecanismo garante que eles sempre se movam mais lentamente que a corrente marítima para permitir o represamento dos plásticos, que flutuam mais rapidamente, no ritmo acelerado das águas. Essa mesma diferença de velocidade é usada para direcionar o lixo plástico coletado a uma espécie de contêiner, que boia com a os flutuadores e funciona como uma lata de lixo. De tempos em tempos, um navio faz a troca desses contêineres e direciona o plástico acumulado a plantas de reciclagem. Em médio prazo, a “The Ocean Cleanup” espera usar o dinheiro arrecadado com a venda de produtos feitos a partir do plástico coletado nos mares para bancar a operação da fundação.

 

Boyan Slat The Ocean Cleanup

Boyan Slat, 23 anos, fundou a The Ocean Cleanup em 2013 (Foto: Divulgação / The Ocean Cleanup)

 

 

 

 

Controvérsia

Nem todos estão convencidos do plano de Boyan Slat e sua “The Ocean Cleanup”. E as críticas são feitas tanto à viabilidade do projeto quanto aos seus objetivos. “O projeto requer investimentos altos demais para tentar resolver um problema que se resolveria sozinho em 20 anos – se o lançamento desses materiais no oceano parasse”, disse o biólogo marinho Jan van Franeker, do Centro de Pesquisas Marinhas Wageningen, na Holanda à revista Science, que pertence à American Association for the Advancement of Science (AAAS).

De acordo com um grupo crescente de cientistas, a iniciativa é vista como uma distração que tira o foco do maior problema: o descarte de plásticos tanto em rios que desembocam nos oceanos quanto diretamente nos oceanos. Nesse sentido, trabalhar não só na redução do consumo de plásticos pela humanidade, mas também na contenção dos plásticos descartados em cursos de água que desembocam no mar, pode ter efeitos mais importantes e duradouros.

Há quem questione, também, a viabilidade da proposta do ponto de vista da engenharia, bem como dos efeitos que o aparelho pode ter sobre a vida marinha. Flutuadores menores que os previstos no projeto do “The Ocean Cleanup” já deram sinais de que não resistem às duras condições do mar. Há sinais, também, de que o uso dos mecanismos que garantem o funcionamento dos flutuadores podem ter impacto no ciclo de vida dos planktons e de outros organismos oceânicos.

Entre os críticos, porém, é praticamente unânime a opinião de que engajar tantas pessoas e trazer atenção para o problema dos plásticos nos oceanos é um mérito do “The Ocean Cleanup”. Em pouco mais de um ano saberemos se a solução realmente funciona.