SÃO PAULO – Um grupo formado por pesquisadores brasileiros e holandeses trabalha para aprimorar a gestão de esgoto doméstico usando uma alga do gênero Chlorella. A iniciativa, que tem financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da NWO (Organização Holandesa para Pesquisa Científica), propõe a criação de uma espécie de fazenda de algas que crescem usando os nutrientes que compõem a chamada “água negra”, uma mistura pouco diluída de água, fezes e urina.
Em entrevista à Agência Fapesp, Luiz Antonio Daniel, professor do Departamento de Hidráulica e Saneamento da EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo) e um dos coordenadores da parceria, afirmou que o objetivo do projeto é enfrentar o problema de gestão de resíduos que hoje é gerado pelo próprio processo de tratamento de esgoto.
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“No processo de tratamento de esgoto mais comum hoje, é necessário usar produtos químicos para remover o fósforo da água, e o que sobra é um lodo que tem pouca aplicabilidade – de acordo com a legislação em alguns estados brasileiros, não se pode usá-lo como fertilizante na agricultura, por exemplo”, disse Daniel à Agência Fapesp. “O lodo, então, acaba indo para aterros sanitários, ou seja, é preciso um gasto considerável apenas para se livrar dele.”
A alga como aliada
Com a adoção da solução em desenvolvimento, parte dos elementos que compõem esse lodo seria “consumida” pelas algas, que, uma vez crescidas e “colhidas”, renderiam quantidades importantes de biomassa e podem ser usadas como adubo depois de processo de secagem e purificação. A aplicabilidade da solução pressupõe a descentralização do tratamento de efluentes, situação que, no Brasil, em função do déficit no sistema de esgotamento, não seria difícil.
“Não seria necessário descentralizar excessivamente, com um sistema de tratamento de esgoto para cada residência ou prédio – podemos pensar em unidades que sirvam a alguns milhares de habitantes, até cerca de 10 mil”, diz Daniel à Agência Fapesp. “Como cerca de 50% dos municípios brasileiros têm menos de 10 mil habitantes, e apenas um quarto deles possui sistemas de tratamento de esgoto, seria possível preparar muitos locais para adotar esse conceito desde o início”, afirma o professor e coordenador da pesquisa.
Nesse momento, o maior desafio é dar escala ao processo para que ele funcione em nível industrial. Testes com esse objetivo já estão agendados para acontecer na Estação de Tratamento de Esgoto de Monjolinho, em São Carlos, no interior do Estado de São Paulo. A iniciativa vem sendo vista com bons olhos por, simultaneamente, diminuir o volume de esgotos e produzir, a partir deles, biomassa que pode ser usada de diferentes maneiras pela população.