SÃO PAULO – No Brasil, a parcela da população com mais dificuldade ao acesso à água e a um sistema de saneamento adequado de esgoto é formada pelas mulheres negras, seguida, respectivamente, por mulheres indígenas e pardas. O estudo Mulheres e Saneamento, produzido pela empresa BRK Ambiental com a Rede Brasil do Pacto Global das Nações Unidas e parceria do Instituto Trata Brasil, mostra que 40,9% das mulheres negras brasileiras, 33% das indígenas e 24,3% das pardas têm escoamento sanitário inadequado.
Em 2016, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua (PNADC) informou que 85,7% da população feminina brasileira, o que equivale a cerca de 91 milhões de mulheres, está abastecida por rede de água. Porém, nas áreas rurais, onde a predominância de mulheres negras, indígenas e pardas é maior, este índice cai para 34,7%.
Por que as mulheres sofrem mais?
De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas, o papel desempenhado pela mulher nas atividades domésticas e nos cuidados familiares torna a falta de água, de saneamento básico e de acesso a condições ideais de higiene um problema com mais impacto sobre as condições de vida da população feminina, se comparada à população masculina.
O mesmo documento ressalta que os trabalhos não remunerados, como atividades domésticas e de cuidado com crianças e idosos, é três vezes maior para mulheres do que para homens e, por isso, elas estão em maior risco de contato físico com água contaminada e dejetos humanos quando a estrutura de saneamento é insuficiente.
Para a ONU, universalizar o serviço de saneamento básico é uma meta prioritária, pois está ligada intrinsecamente ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5), dedicado à igualdade de gênero.
No Brasil, afirma a entidade, cumprir essa meta significa tirar 635 mil de mulheres automaticamente da linha da pobreza, sendo três de quatro delas negras, além de levar água tratada para a moradia de 15,2 milhões de mulheres e conferir acesso adequado à estrutura sanitária para 27 milhões de mulheres.