SÃO PAULO – Pequenas intervenções para promover mudanças de comportamento usando insights da economia comportamental – prática conhecida como “nudging” – têm se mostrado eficientes ferramentas nas campanhas de estímulo ao uso consciente de água. Em recente artigo para a série “Pequenas mudanças, grandes impactos: aplicando as ciências do comportamento ao desenvolvimento”, do Banco Mundial, o economista ambiental Juan Jose Miranda relembrou casos de sucesso de uso da técnica nos Estados Unidos, Colômbia e Costa Rica. “As medidas mais comuns para mudar o comportamento do consumidor em situações como essa costumam ser de aumento de preço da água ou de divulgação de campanhas de comunicação que incentivam a redução do consumo”, escreve Miranda. “Mas elas nem sempre funcionam e, às vezes, podem até ter efeito contrário”.
Miranda lembra, por exemplo, que em países em desenvolvimento, o aumento de preços pode resultar na extrema frustração e possível revolta dos clientes já que o serviço, muitas vezes, é caro o produto entregue de baixa qualidade. Já as campanhas pela redução no consumo, quando feitas sem cuidado necessário, frequentemente levam a picos de demanda. Apavorados com a possibilidade do corte no fornecimento, muitos clientes passam a acumular e estocar água – prática que não só tem efeito inverso ao esperado, mas que também pode trazer graves consequências à saúde pública.
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Por outro lado, medidas da economia comportamental têm mostrado resultados positivos, sistematicamente, desde meados dos anos 2000. No caso de Bogotá, capital da Colômbia, algumas das ações que funcionaram durante a última seca incluem a divulgação diária do índice de consumo de água da cidade nos principais jornais, campanhas televisivas bem-humoradas com o prefeito e sua mulher tomando banho, sanções leves aos maiores consumidores comerciais e reconhecimento de quem economiza. Até o patrono do principal reservatório da cidade, chamado “San Rafael”, participou de uma divertida ação pelo consumo consciente. “As medidas foram eficientes não só durante a crise – elas perduraram e efetivamente mudaram o comportamento da população nos anos que se seguiram”, diz Miranda.
Por que funciona
Diferentemente de boa parte da teoria econômica, a economia comportamental não parte do princípio de que as pessoas são perfeitamente informadas e que agem sempre com objetivo de conseguir o melhor para si mesmas. Na economia comportamental, os limites da racionalidade são reconhecidos e entende-se que há diferentes formas de motivar um comportamento. Nesse sentido, segundo Miranda, a economia comportamental aplicada à proteção ambiental trabalha para mudar o enquadramento e o contexto das escolhas de forma que as consequências dessas escolhas fiquem mais claras. “A economia comportamental pode ajudar as pessoas a tomar decisões melhores tanto para elas quanto para a sociedade”, diz Miranda.