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SÃO PAULO – As represas que compõem o sistema Cantareira perderam 4,1 pontos percentuais de seu volume de água no mês de julho, segundo dados oficiais da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Trata-se da maior queda mensal desde agosto de 2014, quando o Estado vivia o auge da crise hídrica e a redução no período chegou a 4,3 pontos percentuais. Diferentemente de 2014, porém, o índice de água disponível nos reservatórios hoje é substancialmente maior que o registrado em 2014: 62,8%, contra 15,4% acumulados três anos atrás. Mais: em 2014, esses 15,4% incluíam a primeira cota do volume morto, também chamado de “reserva técnica”, que acrescentou 182,5 bilhões de litros ao sistema. O índice de 2017 não leva esse volume de água extra em conta. De acordo com a Sabesp, a queda vista no último mês de julho é considerada “normal”, em se tratando de inverno – a estação mais seca do ano na região.

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Chuvas

Segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), o mês de julho deste ano foi o mais seco desde 2008. Na região das represas do Guarapiranga, por exemplo, foram acumulados apenas 2,1 mm de precipitação, a menor desde a crise hídrica. Até o final de julho, a capital registrava 49 dias ininterruptos estiagem. E nos primeiros sete dias de agosto, quando finalmente choveu, o sistema Cantareira ainda registrou perda de 1,1 ponto percentual (de 62,8% em 31 de julho para 61,7% em 7 de agosto).

A seca que castigou o Sudeste

Entre 2014 e 2016, 80 milhões de pessoas da região Sudeste do Brasil foram castigadas pela seca que assombra o Nordeste há tempos. Foi a pior crise hídrica nos últimos 80 anos. O estado de São Paulo foi um dos mais afetados e viu o índice dos seus reservatórios despencarem de forma assustadora. Desde 2013 o volume das chuvas começou a cair na região, culminando em uma longa estiagem cujos efeitos no abastecimento de água foram sentidos no ano seguinte em diversas cidades paulistanas.

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O sistema Cantareira, o principal reservatório da Grande São Paulo, chegou a operar com 5% da sua capacidade em janeiro de 2015. Por 19 meses, o sistema usou o chamado “volume morto”, uma reserva de 400 bilhões de água abaixo do nível das comportadas, para dar conta de abastecer os habitantes. A situação só alcançou algum alívio em dezembro de 2015, quando os índices atingiram a cota mínima do volume útil.

Vigilância deve ser mantida

Mesmo com a melhora dos índices do reservatórios, especialistas na área dizem que é precipitado falar em fim da crise hídrica, sobretudo porque o comportamento da natureza – no caso das chuvas – é incerto. Eles recomendam que as iniciativas para reduzir o desperdício de água praticadas durante a crise continuem sendo lembradas pelos cidadãos. “É evidente que não podemos decretar que a crise hídrica acabou. O problema hídrico do Brasil não pode ser resumido à estiagem de 2014, que apenas trouxe à tona uma situação que é de extrema complexidade”, destaca Marussia Whately, que lançou recentemente o livro O Século da Escassez.