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SÃO PAULO – O crescente interesse de empresários africanos pelo processamento de esgoto e lodo de estações de tratamento de efluentes está dando origem ao que a revista Nature, uma das mais respeitadas publicações científicas do mundo, chama de “nova economia do excremento”. Em levantamento feito para a edição de setembro, a revista reuniu iniciativas que transformam o esgoto e seus subprodutos em fertilizante, combustível, material de construção, insumos para a indústria bioquímica e até ração para peixes. “Todo mundo faz cocô”, diz David Wilco Drew, da BioCycle. “Então todos podem contribuir para a nossa cadeia de suprimentos”, diz.

Em parceria com a Fundação Bill e Melinda Gates, a BioCycle, de Drew, desenvolveu uma maneira de usar um tipo específico de larva de mosca que se alimenta de fezes humanas para produzir tanto ração animal quanto óleos que podem ser usados como biodiesel e até como insumo para a indústria de cosméticos.

Combustível e material de construção

Segundo estimativa da Universidade das Nações Unidas em Hamilton, no Canadá, se as fezes de todos os habitantes da Terra fossem usadas para produzir biogás, a energia gerada a partir da queima desse material geraria energia elétrica suficiente para atender 138 milhões de residências familiares.

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A Pivot, uma startup de Ruanda, sabe disso e, desde que surgiu, bombeia fossas sépticas na região de Kigali, a capital do país, para usar como insumo para a produção de combustível. Hoje, a empresa produz um tipo de combustível em pó ou em grãos que chega a ser 20% mais eficiente que o produzido a partir da biomassa de serragem ou de cascas de grãos de café. Fábricas de cimento e de tijolos são alguns dos clientes da Pivot.

A mesma empresa vende, ainda, parte do material que não consegue converter em combustível para empresas que fabricam tijolos, que usa esse material na produção dos blocos – depois de um processar o insumo para eliminar vírus e bactérias.

Um passo além

Com a perspectiva de aumento da população mundial e de redução, proporcional, dos investimentos de apoio à universalização do saneamento, pensar na destinação dos efluentes – e não só na inclusão de cidadãos à rede de água tratada e recolhimento de esgoto – deve passar a ser parte importante de qualquer estratégia na área. Segundo a Nature, grandes iniciativas, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e seus desdobramentos, têm tido sucesso crescente em levar privadas e água a quem não as tem. Mas mais atenção ao destino do que entra nessas privadas precisa entrar na ordem do dia. E as iniciativas dos empresários africanos é um passo importante nesse sentido.

Leia a íntegra da matéria da Nature (em inglês, gratuito), intitulada “The new economy of excrement”.