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SÃO PAULO – A Jordânia fica em uma das regiões mais secas do mundo. E hoje, os poços que atendem a demanda por água de boa parte da nação estão secando, a pouca água disponível está cada vez mais poluída, as perdas na distribuição estão em alta e a população não para de crescer – entre 2006 e 2016, ela saltou de 5,9 milhões para 9,5 milhões, uma alta de mais de 60%. Com as mudanças climáticas no horizonte e a iminência de novos fluxos imigratórios, a redução na oferta de água e o aumento na demanda são praticamente certos nos próximos anos.

Para enfrentar o problema, o país passou a investir na busca por soluções nas áreas ambiental, social e de infraestrutura para seus problemas de água. A urgência da questão e o interesse por propostas novas vem atraindo pesquisadores de ponta de todo o mundo. A lógica, para muitos, é de que se uma solução para problemas de água funciona na Jordânia, ela pode funcionar em praticamente qualquer lugar do mundo.

Conheça algumas das soluções já adotadas e em desenvolvimento no país.

Nova modelagem de investimentos

Uma das soluções sendo testada é um revolucionário sistema de modelagem de investimentos em infraestrutura de água. Desenvolvido por pesquisadores da Universidade Stanford, na Califórnia, Estados Unidos, em parceria com o “Jordan Water Project”, ele faz mais que dos softwares tradicionais, que dimensionam esses investimentos com base em variáveis como volume de chuvas, escoamento e drenagem. O novo sistema leva em conta variáveis econômicas e institucionais como índices de crescimento e desenvolvimento urbano, além de tarifa, para definir prioridades. O software pode avaliar, por exemplo, o risco de instalação de novos equipamentos urbanos em regiões de manancial, além de criar um cronograma mais eficiente de consertos e complementos à infraestrutura já instalada.

Irrigação e ETEs compactas

Na frente da agricultura, um grupo de especialistas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) trabalha no desenvolvimento local de uma solução de irrigação por gotejamento que requer metade da energia de um sistema tradicional. A novidade já está em testes em plantações de oliveiras, romãs e frutas cítricas e, em dois anos, deve ter uma versão que funciona com energia solar.

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Já na seara de redução do impacto ambiental do esgoto produzido pelos quase 10 milhões de jordanianos, pesquisadores do Centro Helmholtz de Pesquisa Ambiental em Leipzig, na Alemanha, trabalha, em parceria com o governo da Jordânia, no desenvolvimento de estações de tratamento de esgoto (ETEs) compactas e móveis. A ideia, com essas soluções, é desafogar as grandes ETEs, muitas das quais contaminam o solo e o lençol freático da região onde estão instaladas.

Reservatórios milenares recuperados

A inovação também pode vir da adaptação de soluções que já existem. A restauração de reservatórios milenares é uma delas. Nesse sentido, um time de arqueólogos, engenheiros e políticos jordanianos e americanos se juntou para mapear antigos reservatórios que ainda podem ser aproveitados. Um sistema na cidade de Umm el-Jimal, por exemplo, erguido nos anos 90 d.C. para armazenar as águas que drenavam das montanhas Sírias, e abandonado no século 10 d.C., foi um dos que foi recuperado. Hoje, ele atende a 10% das necessidades das quatro mil pessoas que vivem em seu entorno e virou plataforma de políticos na região, tamanho seu sucesso.

São muitas as iniciativas em desenvolvimento na Jordânia. E os benefícios dos avanços tecnológicos e sociais sendo testados podem vencer as fronteiras do país e ser adotados, com adaptações, por outras nações que, se já não enfrentam dificuldades na gestão da água atualmente, certamente enfrentarão no futuro próximo.