SÃO PAULO – Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a estiagem dos últimos sete anos castigou 70% da área agrícola do nordeste do país. A situação é a pior desde que a média histórica começou a ser calculada, em 1850. Segundo o levantamento, 52,6% dos municípios da Bahia (216) decretaram situação de emergência. No Estado de Pernambuco, um dos mais atingidos, 62,5% dos municípios (115) estão na mesma situação. No total, 1.100 municípios foram afetados, atingindo mais de 20 milhões de pessoas.
Leia mais:
Em 3 anos, seca no nordeste gera prejuízo de R$ 103,5 bilhões
Metade dos reservatórios do semiárido brasileiro tem nível abaixo de 10%
Alertas de seca no Brasil quadruplicam em 13 anos, diz ANA
O Índice Integrado de seca (IIS) informa que a região de estiagem está em expansão, com intensificação principalmente no agreste da Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Segundo o IIS, 286 municípios estão classificados com condição de seca severa, 91 com condição de seca extrema e 25 com condição de seca excepcional – estes últimos localizados nos Estados da Paraíba, Pernambuco, Sergipe e Alagoas.
O cenário é propício para o aumento de pragas e doenças em quase todas as culturas, o que coloca os produtores em alerta e reforça a importância do monitoramento. A próxima safra deve vir acompanhada de um aumento na incidência de mosca-branca e percevejos nas culturas de soja, milho e algodão, já que as chuvas e a baixa das temperaturas são um controle natural.
A pesquisa avalia, ainda, que o processo de desertificação da região deve progredir independentemente das mudanças climáticas, porque está relacionado também ao desmatamento da vegetação nativa da caatinga – único bioma exclusivamente brasileiro. Sem a fauna e a flora próprias da “mata branca”, o solo fica exposto e tende a sofrer erosões.
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 13 (ODS)
A Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), prevê 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O objetivo número 13 visa reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação a riscos relacionados ao clima e às catástrofes naturais em todos os países, além de integrar medidas para prevenir mudanças do clima nas políticas, estratégias e planejamentos nacionais.
O item também menciona implementar o compromisso assumido pelos países desenvolvidos que fazem parte da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima [UNFCCC], para mobilizar conjuntamente US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020, de todas as fontes, para atender as necessidades dos países em desenvolvimento. A meta é criar ações de mitigação dos efeitos climáticos com transparência na implementação e operacionalizar, plenamente, o Fundo Verde para o Clima.
No caso brasileiro, o El Niño é responsável pelo prolongamento dos episódios de seca, causando um aquecimento anormal do Oceano Pacífico e mudando padrões de vento e regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. O climatologista Carlos Nobre, um dos responsáveis pelo estudo do Cemaden, alerta para o caso de as temperaturas continuarem em elevação.
Em 2012, pior período recente de seca, a área afetada de maneira extrema foi de 2% na região. Até o final do século, se de fato tivermos um aumento de 4°C na temperatura média, a área castigada pode chegar a 51% com secas extremas. Caso as nações não consigam cumprir o Acordo de Paris e o aquecimento global ultrapasse os 4°C, a desertificação deve atingir 15% do território nacional, onde vivem 37 milhões de pessoas.