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SÃO PAULO – Coordenado pelos cientistas e ambientalistas Peter Gleick e Charles Iceland, as organizações internacionais Pacific Institute e World Resources Institute publicaram o novo documento Water, Security, and Conflict (“Água, Segurança e Conflito”, em tradução livre) que mapeia de forma global, causas, consequências e potenciais soluções para crises de fornecimento de água. No trabalho, a dupla explica a lógica por trás dos conflitos por água e dos problemas políticos e econômicos, mas aponta uma estratégia para minimizar eventuais crises.

A edição resume as principais ameaças à água e à segurança do fornecimento hídrico por meio de suas ligações com conflitos, migrações e efeitos na segurança alimentar. O objetivo, afirmam os autores, é fornecer conhecimento e ferramentas para que profissionais das áreas de defesa, diplomacia e políticas públicas promovam ações que evitem ou revertam crises.

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Os riscos apontados no documento “Água, Segurança e Conflito”

O texto analisa que os riscos relacionados à água são prejudiciais ao bem estar humano em diversos aspectos: cria instabilidade política, induz a conflitos violentos, pode estimular deslocamento e migração indesejadas, promover insegurança alimentar aguda e minar, de forma ampla, a segurança de uma nação ou até mesmo de todo o planeta.

Os autores relatam que riscos relacionados à disponibilidade hídrica têm ameaçado civilizações ao longo de milênios, mas que agora enfrentamos uma situação inédita: há um consolidado crescimento econômico e populacional que rendeu uma ameaça real de mudanças climáticas. Assim, afirmam que há três grandes categorias de riscos de fornecimento de água: redução de quantidade ou qualidade de suprimento para uma população; aumento desordenado de demanda hídrica em uma região; e eventos extremos de inundação ou seca.

Entre os exemplos elencados, o documento cita a trágica seca que afligiu a Somália entre 2010 e 2012, que matou 260 mil pessoas, e a grave seca ocorrida em 2011 na Síria e colaborou para o nascimento dos conflitos que ocorreram anos depois. O Brasil aparece como um caso de contaminação de água, resultado do problema de gestão hídrica do reservatório da represa Billings, em São Paulo, na qual a água que chegaria à população paulista estava mais poluída do que o permitido para consumo.

Represa Billings. Crédito: Hamilton Breternitz Furtado/Wikimedia/CC3.0

As soluções sugeridas no documento “Água, Segurança e Conflito”

Resolver o problema, ou pelo menos reduzir seus riscos, exige uma abordagem multifacetada, afirmam os cientistas que assinam o documento. As ações sugeridas passam por mobilizar diplomatas e formuladores de políticas públicas, fornecer treinamento e capacitação sobre melhores práticas e abrir diálogos entre entidades intra e internacionais – todas essas estratégias são recomendadas ainda mais para países do Sul da organização internacional.

“Novos fatores, incluindo o crescimento rápido da população, a degradação ambiental, o crescimento da classe média em nações do hemisfério Sul e as alterações climáticas promovidas pelo homem contribuem para os riscos de segurança hídrica e tornam cada vez mais urgentes soluções para que tensões relativas à água sejam encontradas e implementadas.

Essas soluções incluem abordagens de gestão e de economia, bem como a aplicação de novas tecnologias para monitoramento e uso de água. “Há muitas coisas que podemos fazer para reduzir os riscos relativos ao consumo de água, mas é vital que os líderes nacionais e internacionais tomem medidas decisivas antes de erupções de crises”, conclui o documento.